“Felizes
os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7)
Quando
estávamos aguardando abrir a Porta Santa do Ano Santo da Divina Misericórdia
começamos a nos orientar pela mensagem do Papa Francisco para a XXXI Jornada
Mundial da Juventude de 2016. Vamos prosseguir. Tudo o que segue são palavras do
Papa Francisco na sua Mensagem de 15 de agosto de 2015.
“Felizes os misericordiosos
porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7)
Este
Jubileu extraordinário tem como lema «misericordiosos como o Pai» (cf. Misericordiae
Vultus , 13), aparecendo associado com ele o tema da próxima JMJ. Procuremos
então compreender melhor que significa a misericórdia divina.
Para
falar de misericórdia, o Antigo Testamento usa vários termos, sendo os mais
significativos hesederahamim. O primeiro, aplicado a Deus, expressa a sua
fidelidade indefectível à Aliança com o seu povo, que Ele ama e perdoa para
sempre. O segundo, rahamim, pode ser traduzido por «entranhas», evocando de
modo especial o ventre materno e fazendo-nos com preender o amor de Deus pelo
seu povo como o duma mãe pelo seu filho. Assim apresenta o profeta Isaías:
«Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebe, não ter carinho pelo fruto das
suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria»(Is 49,15).
Um amor assim implica criar dentro de mim espaço para o outro, sentir, sofrer e
alegrar-me com o próximo.
“Felizes os misericordiosos
porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7)
No
conceito bíblico de misericórdia, está incluída também a valência concreta dum
amor que é fiel, gratuito e sabe perdoar. Neste texto de Oseías, temos um
belíssimo exemplo do amor de Deus, comparado ao dum pai pelo seu filho: «Quando
Israel era ainda menino, Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho. Mas, quanto
mais os chamei, mais se afastaram (...). Entretanto, Eu ensinava Efraim a
andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava
deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os
que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe
dar de comer» (Os11, 1-4). Apesar do comportamento errado do filho, que
mereceria uma punição, o amor do pai é fiel e perdoa sempre um filho arrependido.
Como vemos, na misericórdia está sempre incluído o perdão; a misericórdia
divina «não é uma ideia abstrata mas uma realidade concreta, pela qual Ele
revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio
filho. (...) Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de
ternura e compaixão, de indulgência e perdão» (Misericordiae Vultus,6).
“Felizes os misericordiosos
porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7)
O Novo
Testamento fala-nos da misericórdia divina (eleos) como síntese da obra que
Jesus veio realizar no mundo em nome do Pai (cf. Mt 9, 13). A misericórdia de
Nosso Senhor manifesta-se, sobretudo quando Se debruça sobre a miséria humana e
demonstra a sua compaixão por quem precisa de compreensão, cura e perdão. Em
Jesus, tudo fala de misericórdia. Mais ainda, Ele mesmo é a misericórdia.
“Felizes os misericordiosos
porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7)
No
capítulo 15 do Evangelho de Lucas, podemos encontrar as três parábolas da
misericórdia: a ovelha tresmalhada, a moeda perdida e a conhecida por filho
pródigo. Nestas três parábolas, impressiona a alegria de Deus, a alegria que
Ele sente quando reencontra um pecador e o perdoa. Sim, a alegria de Deus é
perdoar! Aqui está à síntese de todo o Evangelho. “Cada um de nós é aquela
ovelha tresmalhada, a moeda perdida; cada um de nós é aquele filho que esbanjou
a própria liberdade, seguindo ídolos falsos, miragens de felicidade, e perdeu
tudo”. Mas Deus não Se esquece de nós, o Pai nunca nos abandona. É um pai
paciente, espera-nos sempre! Respeita a nossa liberdade, mas permanece sempre
fiel. E, quando voltamos para Ele, acolhe-nos como filhos na sua casa, porque nunca,
nem sequer por um momento, deixa de esperar por nós com amor. E o seu coração
fica em festa por cada filho que volta para Ele. Fica em festa, porque Deus é
alegria. Vive esta alegria, cada vez que um de nós, pecadores, vai ter com Ele
e pede o seu perdão» (Angelus, 15 de Setembro de 2013).
“Felizes os misericordiosos
porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7)
A
misericórdia de Deus é muito concreta, e todos são chamados a fazer experiência
dela pessoalmente. Quando tinha dezessete anos, num dia em que devia sair com
os meus amigos, decidi passar antes pela igreja. Ali encontrei um sacerdote que
me inspirou particular confiança e senti o desejo de abrir o meu coração na
Confissão. Aquele encontro mudou a minha vida. Descobri que, quando abrimos o
coração com humildade e transparência, podemos contemplar de forma muito
concreta a misericórdia de Deus. Tive a certeza de que Deus, na pessoa daquele
sacerdote, já estava à minha espera, ainda antes que desse o primeiro passo
para ir à igreja. Nós procuramo-Lo, mas Ele antecipa-se-nos sempre, desde
sempre nos procura e encontra-nos primeiro. Talvez algum de vós sinta um peso
no coração e pense: Fiz isto, fiz aquilo...Não temais! Ele espera-vos. É pai;
sempre nos espera. Como é belo encontrar no sacramento da reconciliação o
abraço misericordioso do Pai, descobrir o confessionário como o lugar da
Misericórdia, deixar-nos tocar por este amor misericordioso do Senhor que nos
perdoa sempre!
“Felizes os misericordiosos
porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7)
E tu,
caro jovem, cara jovem, já alguma vez sentiste pousar sobre ti este olhar de
amor infinito que, para além de todos os teus pecados, limitações e fracassos,
continua a confiar em ti e a olhar com esperança para a tua vida?
Estás
consciente do valor que tens diante de um Deus que, por amor, te deu tudo? Como
nos ensina São Paulo, assim «Deus demonstra o seu amor para conosco: quando
ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós»(Rm 5, 8). Mas compreendemos
verdadeiramente a força destas palavras?
“Felizes os misericordiosos
porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7)
Sei como
todos vós amais a cruz das JMJ’s – dom de São João Paulo II – que, desde 1984,
acompanha todos os vossos Encontros Mundiais. Na vida de inúmeros jovens,
quantas mudanças – verdadeiras e próprias conversões – brotaram do encontro com
esta cruz singela! Talvez vos tenhais posto a questão: donde vem esta força
extraordinária da cruz? Aqui tendes a resposta: a cruz é o sinal mais eloquente
da misericórdia de Deus. Atesta-nos que a medida do amor de Deus pela
humanidade é amar sem medida. Na cruz, podemos tocar a misericórdia de Deus e
deixar-nos tocar pela sua própria misericórdia. Gostaria aqui de lembrar o
episódio dos dois malfeitorescrucificados
ao lado de Jesus: um deles é presunçoso, não se reconhece pecador, insulta o
Senhor. O outro, ao contrário, reconhece ter errado, volta-se para o Senhor e
diz-Lhe: «Jesus, lembra-Te de mim, quando estiveres no teu Reino». Jesus fixa-o
com infinita misericórdia e responde-lhe: «Hoje estarás comigo no Paraíso»(cf.Lc23,
32.39-43). Com qual dos dois nos identificamos? Com aquele que é presunçoso e
não reconhece os próprios erros? Ou com o outro, que se reconhece necessitado
da misericórdia divina e implora-a de todo o coração? No Senhor, que deu a sua
vida por nós na cruz, encontraremos sempre o amor incondicional que reconhece a
nossa vida como um bem e sempre nos dá a possibilidade de recomeçar.
“Felizes os misericordiosos
porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7)
Pe. Pedro Adolino Martendal
Diretor Espiritual
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